13/08/2023

Assessoria de Imprensa x Redação: como melhorar essa relação?

Uma experiência super construtiva que tive recentemente foi estar entre dezenas de pares de agências de comunicação para, juntos, ouvirmos e trocarmos ideias com a jornalista Lana Pinheiro, editora de ESG e da coluna de Sustentabilidade da IstoÉ Dinheiro, sobre a relação entre jornalistas de redação e os atuantes em assessorias de imprensa.

Confesso que saí desse encontro reflexiva, pois em muitos momentos me deparei revivendo outros papos, workshops e cursos que já fiz sobre o tema  há anos.

Puxando aqui no meu ‘arquivo morto mental’ e cruzando com as informação que a Lana compartilhava, rapidinho, caiu a ficha: pouco mudou no que tange essas relações e suas problemáticas nesses meus 22 anos de vivência no jornalismo. Sinal vermelho, isso não é legal!

✅ As dores de um ainda são pouco entendidas pelo outro; a dor do outro ainda é pouco respeitada pelo um. E vice versa, gente!

✅ O assessor de imprensa espera do jornalista de redação, por exemplo, resposta (rápida) para um e-mail que chegou junto com 250 ou mais nas primeiras horas da manhã ou um ‘oi’ no WhatsApp entre dezenas (centenas) de outras chamadas, pois a natureza da sua atuação depende desse contato;

✅ O jornalista espera um dia receber na sua caixa de entrada apenas mensagens que realmente sejam, minimamente, relacionadas a sua editora (entre as mais de mil que se acumulam ao longo de um único dia). E por aí vai…

E o excesso de e-mails é só UMA entre as MUITAS dores desta relação:

➡ tem a dúvida sobre o acionar ou não acionar um jornalista no WhatsApp;

➡ é o telefone fixo da redação que inexiste depois da pandemia, só toca mas nem tem quem o atenda;

➡ tem a hora e o dia certo, ou não, para fazer o tal follow up;

➡ tem aquela queixa de que só o jornalista pode acionar o assessor a qualquer momento, até no sábado às nove da noite, mas o assessor nem sequer pode ligar pro jornalista;

➡ tem a falta de ‘coleguismo’ e cooperação entre pares de profissão em muitos momentos;

➡ e parece que tem até jornalista de redação aumentando a renda no final do mês vendendo matéria para assessorias, digamos, ‘por fora’ (depoimento que ouvimos de uma colega no encontro, que recebeu tal proposta indecente). Nunca passei por isso, mas se acontece, se tem que venda, tem quem compre, concordam?? Então, tá tudo errado! 

Mas vamos lá! Nem tudo ficou parado no tempo! Algo mudou e muuuito, como a própria Lana pontuou bem: o mercado de trabalho.

Antes tínhamos grande oferta de vagas em redações e poucas em agências de comunicação, PR e Assessorias de Imprensa – e cá pra nós, muito preconceito em relação ao jornalista que atuava em AI.

Quem saía da faculdade, lá nos anos 2000, pouco antes ou depois, e sonhava em ser assessor?? Quase ninguém (eu 🙃) queria o mundo da AI.

Quem sonhava em trabalhar em um grande jornal, TV ou uma baita revista legal? A maioria esmagadora! Eu acho que ainda é assim…

Só que hoje temos milhares de agências (mais de 3 mil, de diferentes portes) e um encolhimento sem precedentes das oportunidades e carreira em redações. Boa parte dessa maioria que sonhou com a redação de algum veículo começou a migrar para AI  por conta, justamente, desse enxugamento – ou até pela falência de veículos.

Eu escolhi ser Assessora de Imprensa por vocação, ainda cursando jornalismo, queria isso pra minha carreira. Mas com muita gente não é assim.

Recentemente, fiz uma enquete simples no meu #Linkedin para saber entre as minhas conexões quem era AI por vocação, escolha ou ocasião. E olha o resultado:

Mais recentemente, uma nova onda vem levando mais profissionais de comunicação de veículos tradicionais para outro caminho: o das plataformas online.

Jornalistas especialistas, com grandes audiências e formadores de opinião são os novos ‘influenciadores de nicho’ nas redes sociais; têm seus próprios programas no YouTube; estão investindo em blogs e podcasts (entre outros formatos). Estão se desvinculando da imprensa oficial ou trilhando novos caminhos paralelamente.

Querem dar mais personalidade ao seu trabalho? Entenderam que no digital terão mais liberdade para monetizar seu conhecimento por meio de conteúdo? Sabem que há público garantido? Não veem futuro nos veículos onde atuam ou atuavam?? Essas são algumas hipóteses, creio que todas são válidas e há tantas outras mais.

A relação entre jornalistas e assessores não caminhou significativamente, mas a comunicação está mudando muito e rapidamente nas últimas duas décadas, a forma de consumir informação também. 

Somado a tudo isso, temos hoje, tanto nas redações como nas agências, a ‘juniorização’ atropelada, já que jornalistas de redação experientes não têm, como no passado, tempo para compartilhar conhecimento, trocar e, assim, ajudar a formar novos profissionais que estão chegando no mercado.

Nas assessorias vimos também jovens recém formados que mal tiveram aula de AI na faculdade sendo literalmente jogados na fogueira, ou seja, assumindo tarefas de profissionais seniores e respondendo pelo atendimento de clientes sem bagagem para tal, sem auxílio e preparo. 

Tudo isso respinga, e piora, a tal relação redação x assessoria . Elas nunca estiveram tão conflituosas. Quem nunca se deparou com posts em redes sociais, extremamente ofensivos e por vezes descabidos, de ambos. É tiro para todo lado!

Com tantas questões dos dois lados do balcão, falta mídia, falta tempo e gente para produzir, sobra oferta de pautas e releases. Falta braço’ para apuração, circula informação de qualidade questionável. Equação difícil!

Mas chega de dor. Vamos falar um pouco de solução?

Se você é jornalista ou RP e está chegando no mercado de AI e  vai se relacionar com a imprensa, já anota aí essas dicas.

Olha, sinceramente, elas não são novas, valem desde sempre, são úteis, mas andam meio esquecidas…

Nada de colar release no corpo do e-mail e tacar o dedo no botão enviar! Resuma a sua notícia ou sugestão de pauta em 300 caracteres e abra sua mensagem com ela, depois vem o release;

– Não esqueça, se relacione com a imprensa, não seja apenas um ‘fazedor de releases’, ele é um material de apoio, ferramenta de trabalho apenas, mas não gera sozinho os resultados que precisa (eu tenho um artigo no blog Vida de Jornalista que fala sobre isso, LEIA AQUI);

Capriche nos filtros ao montar seu mailing em uma plataforma de envio, quem escreve de logística não aguenta mais receber releases de celebridade e assim por diante; 

Nunca acione um jornalista sem saber exatamente sobre o que ele escreve, leia a sua última matéria e faça um follow mais assertivo, não perca seu tempo com quem não escreve sobre a pauta que quer vender e não faça o colega de redação perder tempo também;

Saiba dizer não para o seu cliente quando ele quiser desenvolver uma pauta que não é notícia, oriente, assessore nesse sentido para que entenda o que é ou não de interesse jornalístico;

– Saiba também dizer não também quando o cliente quiser colocar como meta sair em um veículo para o qual você sabe que ele não uma tem notícia, zere a frustação antes do insucesso de uma não publicação, ofereça outros caminhos!

E voltando a pergunta do título, sobre como melhorar a relação Assessoria de Imprensa x Redação, deixo um pensamento:

‘A medida que olhamos os dois lados da moeda, e não apenas para o nosso umbigo, conhecemos a dor do outro, mudamos comportamento e, na minha visão, tudo passa por essa palavrinha: comportamento’

Quando não é possível conhecer os dois lados do balcão, ouvir quem está do lado contrário pode ajudar a provocar a tal mudança real de comportamento. Acredito que assim teremos uma luz no fim do túnel. 

Esse assunto é infinito. Mas espero ter ajudado com reflexões construtivas. 
Até a próxima!

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