24/10/2022

Tempestade perfeita: como gerir uma crise de comunicação no meio de uma pandemia

Por Alessandro Padin
Jornalista, assessor de imprensa e professor universitário.

A comunicação, na era digital, tornou tudo instantâneo e simultâneo. Mesmo que seja um clichê falar disso, pois a imensa maioria da sociedade está inserida nesse contexto e já sabe as dores e as delícias de estar hiperconectada, é um importante pressuposto para discutir o impacto no ambiente corporativo, em especial o da comunicação empresarial.

As empresas, e aí também incluímos as entidades representativas, não têm mais tempo para “respirar”.

Quando inseridas no debate público, seja por um tema que mobilize a sociedade ou mesmo uma polêmica, um escândalo, podem sofrer danos irreversíveis na imagem, vítimas dos barulhentos berros da turba que povoa as redes sociais. É um tema delicado que a pandemia do coronavírus (Covid-19) tornou ainda mais sensível.

Veja o exemplo do setor de eventos de cultura e entretenimento, o mais impactado pela crise, que envolve uma cadeia produtiva com 54 áreas com 640 mil empresas, 2,2 milhões de Microempreendedores Individuais (MEIs) e que gera, em todo o país, mais de 6 milhões de empregos.

Totalmente paralisada ao longo de dois anos, viveu um ambiente de empresas fechando e aumento de desemprego. No início da pandemia, a Conteúdo Empresarial assumiu a Assessoria de Imprensa da Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (ABRAPE), uma das principais entidades representativas do segmento no país.

Ao administrar o relacionamento da associação com veículos de imprensa de todo o país, enfrentamos obstáculos que, depois, se tornaram grandes aprendizados, mesmo com toda a experiência da equipe da agência em gestão de crises. Primeiro, vamos expor os desafios que a pandemia trouxe.

 

Navegando em um mar revolto

O primeiro obstáculo foi de ordem prática. Era proibido aglomerar e a imagem de grandes shows e eventos lotados virou o símbolo maior do risco de contágio, mesmo que o transporte coletivo nas grandes metrópoles continuasse circulando diariamente com gente espremida.

O segundo obstáculo foi de ordem cultural. Na visão de parte da sociedade, cultura e entretenimento são atividades dispensáveis. Enxergam, por exemplo, que tudo se resume ao astro da música que sobe ao palco, ignorando todas as outras 54 áreas que o setor impacta. Não enxerga o vendedor de pipoca na entrada do ginásio.

Os desafios da Assessoria de Imprensa foram direcionados para que os ecos desse raciocínio não predominassem nas pautas dos veículos de comunicação.

a imagem de grandes shows virou o símbolo maior do risco de contágio, mesmo que o transporte coletivo nas grandes metrópoles continuasse circulando diariamente com gente espremida.

 

Içando as velas para atravessar a tempestade

Cientes desses obstáculos, a ABRAPE, de forma hábil e inteligente, elaborou, no início da crise, uma pesquisa que mostrou os impactos da pandemia no setor. Com números em mãos, tínhamos, portanto, a matéria-prima ideal para conversar com os jornalistas. Como os estudos passaram a ser frequentes, a entidade consolidou-se como fonte de qualidade.

Então, um bom aprendizado. Em crises dessa magnitude, sempre procure ter números, estatísticas e estudos em mãos.

Outro ponto positivo foi a mobilização. A ABRAPE foi a entidade que liderou um grande movimento em todo o país para aprovar, no Congresso Nacional, o Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos – PERSE, depois transformado em lei pelo presidente da República e que proporcionou proteção às empresas do segmento.

Com a entidade assumindo o protagonismo, passamos a ser mais procurados pelos veículos de comunicação. Isso foi essencial para que a ABRAPE se consolidasse como porta-voz do setor.


Chegando em terra firme

De toda essa experiência, ficam grandes aprendizados que merecem ser enumerados para uma reflexão:

1- É fundamental fazer uma análise de cenário. Não dá para superar obstáculos práticos e culturais sem que você tenha matéria-prima de qualidade para isso.

2- Essa matéria-prima pode ser uma boa pesquisa, com estatísticas e índices que reforcem os seus argumentos.

3- Para que a sua empresa ou entidade se torne uma fonte influente, é preciso mais que um posicionamento. É preciso que tenha algo a acrescentar, um viés que talvez tenha passado despercebido na pauta.

E, por fim:

4- Uma sinergia entre porta-vozes e Assessoria de Imprensa. Sem isso, a empresa ou entidade corre o risco de sofrer com a instantaneidade e simultaneidade da comunicação digital.

No desafio imposto pela pandemia, por exemplo, contamos com o total apoio do presidente da ABRAPE, o empresário Doreni Caramori Júnior. Experiente nos assuntos de imprensa, sempre teve o timing correto, o que foi fundamental para que a entidade se consolidasse como fonte influente sobre o setor de cultura e entretenimento.

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